domingo, 12 de abril de 2009

Um Bom Dia com a Química

Bom dia. Hora de começar uma nova jornada. Nada como um lento espreguiçar, algumas flexões e uma ducha para ganhar energia. Antes de abrir o chuveiro, verifique se você não esqueceu o sal sódico de ácido graxo de palma. Sem ele, banho não é banho. Ah, está na saboneteira. Então não há problema. Sinta-o limpando os seus poros com uma espuma reconfortante. Ih!!! Mas a monoetanolamina de ácido graxo, o álcool cetílico e o pantenol estão no fim. Só dá para mais uma vez. Então, é bom não esquecer de incluir o xampu na lista de compras.

Enquanto você escova os dentes com sorbitol e carbonato de cálcio, pense como a Química está presente no seu dia-a-dia. Olhe os produtos que você e sua família usam na higiene pessoal. São tantos e tão variados que fica difícil relacioná-los. Além do sabonete, xampu e creme dental, há muitos outros que só puderam ser fabricados graças às descobertas da Química. Sem ela, atos tão rotineiros, prazerosos e fundamentais para a saúde, como tomar um banho e escovar os dentes, seriam verdadeiros sacrifícios. Imagine se em vez de uma escova com macias cerdas de náilon e cabo plástico colorido e anatômico, você contasse apenas com pó de pedras ou farpas de madeira para fazer sua higiene bucal. Como você convenceria as crianças sobre a importância do hábito de escovar os dentes após as refeições? É bom nem pensar...

Onde está o creme de barbear? Ou melhor, a mistura de ácido esteárico com trietanolamina. As crianças devem tê-lo colocado outra vez junto com o dodecanol de octila e com o vermelho ácido da sua esposa. Não, não está no meio dos batons. Talvez ao lado do óxido de ferro e do dióxido de titânio ou com o lauril éter sulfato de sódio. Não, entre o blush e o demaquilante ele também não está. Olhe! Lá está o seu creme de barbear, escondido atrás do propilenoglicol e do palmitato de cetila, junto com o pantenol e o hialuronato de sódio. Isso mesmo, atrás da base e do creme hidratante.

Pronto, barba feita, é hora da glicerina, do sulfato de zinco e do álcool, presentes na refrescante loção após barba. E, é claro, o álcool de lanolina acetilada, emoliente utilizado na formulação dos desodorantes. Como toque final, um pouquinho de sua tetrahidroxibenzofenona com álcoois e óleos essenciais. É, uma colônia suave ajuda a enfrentar um dia quente. E, por falar em dias de sol, não esqueça de se proteger com o P-metoxicinamato de etil-hexila. Presente em bloqueadores solares, esse princípio ativo é mais uma das descobertas da Química que ajuda o homem a viver melhor. Muito bom, você já está preparado para enfrentar mais um dia de trabalho. Não se preocupe, ao voltar para casa a Química estará novamente com você, ajudando-o a relaxar. Afinal, ela está tão presente no seu dia-a-dia que você nem nota a sua presença. A não ser, é claro, quando acaba o sal sódico de ácido graxo de palma, o álcool de lanolina acetilada, o pantenol....

Referências:

1. Associação Brasileira de Indústria Química - ABIQUIM - "Um Bom dia com a Química". Luis Carlos de Medeiros (MTb: 12.293)

sábado, 11 de abril de 2009

Gasolina Adulterada: Como identificar?

Gasolina adulterada é aquela que não está dentro das especificações legais, ou seja, que possui mais álcool ou mais solventes que a lei permite apesar da lei fixar em 2% o limite máximo de solvente a ser misturado na gasolina e em 25% o do álcool. Muitos postos não estão respeitando estes valores. Isso ocorre porque ao adulterar a gasolina aumentando a mistura de solventes, que são produtos químicos mais baratos, melhora a rentabilidade do negócio em até 10%.

O lucro fácil para o dono do posto representa, porém, possível prejuízo para o consumidor. Além de o veículo perder desempenho e, consequentemente, consumir mais combustível, o consumidor pode ser obrigado a gastar ainda mais com oficinas mecânicas. Alguns exemplos de problemas causados pelo uso de gasolina adulterada:

- O entupimento da bomba da gasolina (que fica no tanque e leva o combustível até o motor). Pode-se observar quando o carro começa a falhar ou “morrer” sendo preciso dar uma partida várias vezes para voltar a funcionar. Nesse caso, o conserto fica em torno de R$300,00.

- A corrosão do sistema de injeção eletrônica (um conjunto de peças que injetam a quantidade exata de gasolina nos cilindros para o motor funcionar, evitando desperdícios). Um conserto no sistema de injeção eletrônica, custa em média, R$1.500,00 nos veículos populares.

Como é feito o teste do teor de álcool ("teste da proveta") na gasolina?

O teste de teor de álcool presente na gasolina, conforme disposto na Resolução ANP (Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) nº 9, de 7 de março de 2007 é feito com solução aquosa de cloreto de sódio (NaCl) na concentração de 10% p/v, isto é, 100g de sal para cada 1 litro de água:

- em uma proveta de vidro de 100ml, graduada em subdivisões de 1ml, com boca esmerilhada e tampa, colocar 50ml da amostra de gasolina na proveta previamente limpa, desengordurada e seca;

- adicionar a solução de cloreto de sódio até completar o volume de 100ml;

- misturar as camadas de água e amostra por meio de 10 inversões sucessivas da proveta, evitando agitação enérgica;

- deixar em repouso por 15 minutos, a fim de permitir a separação completa das duas camadas;

- anotar o aumento da camada aquosa, em mililitros;

- a gasolina, de tom amarelado, ficará na parte de cima do frasco e a água e o álcool, de tom transparente, na parte inferior. O aumento em volume da camada aquosa (álcool e água) será multiplicado por 2 e adicionado mais 1.

O método utilizado foi o teste de proveta. Neste experimento adicionamos 100ml de solução de cloreto de sódio em 50ml da amostra de gasolina e esperamos o álcool se dissolver na água. Isso ocorre pois o álcool possui caráter apolar (devido à presença da cadeia de hidrocarbonetos) e polar (devido à presença de -OH), sendo assim se dissolve em ambas as fases. O álcool possui mais afinidade com a fase polar; sendo a gasolina apolar e a água polar, o mesmo irá migrar de fase (USBERCO e SALVADOR, 2005). Após a separação das fases, observa-se o quanto o nível da água aumentou.

O consumidor pode solicitar que o posto faça o teste de teor de álcool na gasolina ("teste da proveta") sempre que julgar conveniente.

Desde o dia 1º de julho de 2007, o percentual obrigatório de álcool etílico na gasolina é de 25%, sendo que a margem de erro é de 1% para mais ou para menos.

Como proceder em caso de suspeita de adulteração dos combustíveis?

Denunciar o posto revendedor de combustível à ANP na seção Fale com a ANP ou pela Central de Atendimento 0800 970 0267 (ligação gratuita). Para registrar a sua denúncia, necessitamos do maior número de informações possível sobre o agente econômico, como CNPJ, razão social, endereço, distribuidora, e a descrição do ocorrido. Para isso, é importante ter a nota fiscal.

Mesmo que o posto não seja fiscalizado imediatamente, ou não seja comprovada a adulteração quando ocorrer a fiscalização, as denúncias recebidas, o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis, além das informações dos Procons, do Ministério Público, da Polícia e de outros órgãos, ajudam a direcionar as ações e estabelecer os roteiros da fiscalização da ANP em todo o país.

Como a ANP combate a adulteração dos combustíveis?

A ANP instituiu, em 1999, o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis com o objetivo de monitorar a qualidade do combustível comercializado no país, cujos resultados são apresentados por região, por estado e no total no país.

A partir das informações obtidas nesse programa, das denúncias de consumidores e de outros órgãos, como Procons, Ministério Público e Polícia, a ANP direciona as ações e estabelece os roteiros da fiscalização. Se comprovada a adulteração são tomadas medidas, tais como: autuação, lacre da bomba, fechamento do posto e multa, conforme Lei n.º 9847, de 26 de outubro de 1999, que dispõe sobre a fiscalização das atividades relativas ao abastecimento nacional de combustíveis.

Referências:

1. http://www.anp.gov.br/

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Química Forense: Disparos de Armas de Fogo

A atuação das forças policiais no combate ao crime no Brasil dá-se de um modo geral em três vias concomitantes: 1) o policiamento ostensivo, realizado pelas forças policiais militares de cada Estado, o qual compreende o confronto físico direto com os criminosos; 2) a investigação policial, realizada pela polícia civil; 3) a pesquisa de vestígios em cenas de crime, realizada pela polícia científica. Neste terceiro setor, a coleta e análise de vestígios encontrados em cenas de crime é de responsabilidade do perito criminal, um policial atuante junto ao instituto de criminalística de cada Estado.
Os locais de crime, bem como os elementos de interesse pericial nele contidos devem ser fotografados do modo como foram encontrados pelo perito ou levantados por meio de desenhos esquemáticos, plantas que são previstas no código de processo penal. Os vestígios encontrados na cena do crime (peças, instrumentos de crime, substâncias químicas etc.) devem ser analisados e interpretados pelo perito e reportados de modo descritivo em um relatório denominado laudo técnico-pericial. Assim, entende-se por levantamento técnicopericial do local do fato a reprodução fiel e minuciosa do espaço físico onde ocorreu um evento de interesse judiciário, bem como da importância de cada vestígio coletado e sua relação com o fato criminoso (Block, 1979; Else, 1934).

Os Exames Laboratoriais

Após a etapa de coleta de vestígios, cabe ao perito criminal proceder à análise laboratorial dos mesmos. Tais análises podem ser realizadas utilizando-se métodos físicos e químicos. Como exemplos de métodos físicos, podem ser citados: a pesagem de peça de amostras, a determinação de ponto de fusão de substâncias sólidas, visualização de elementos ocultos utilizando-se lentes de aumento (lupas e microscópios óticos) e fontes de luzes especiais (ultravioleta e polarizada), dentre outros. Quando a determinação da natureza de uma substância química torna-se necessária, ou quando existe a necessidade de detecção de traços de determinadas substâncias químicas de interesse forense, torna-se imprescindível a utilização de métodos químicos de análise, sendo tais análises químicas o tema principal deste trabalho.

Química Forense


Segundo Zarzuela (1995), denomina- se Química Forense o ramo da Química que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, a fim de atender aspectos de interesse judiciário. Tal ramo da Química atende basicamente as áreas de estudos da Criminalística e da Medicina Forense. São exemplos de análises químicas de interesse forense possíveis as reações empregadas nas análises de disparos de armas de fogo (Zarzuela, 1995; Reis et al., 2004), identificação de adulterações em veículos (Stumvoll e Quintela, 1995), revelação de impressões digitais (Ho, 1990), identificação de sangue em locais de crime e peças relacionadas a estes (Zarzuela, 1995; Ho, 1990), bem como constatação de substâncias entorpecentes como maconha e cocaína (Ho, 1990; CEBRID, 2005; Gaensslen, 1983a e 1983b). Destas, constituem objeto de estudo deste trabalho os exames de análise de disparo de arma de fogo.

Disparos de Armas de Fogo

Na utilização de armas de fogo em episódios de crime, são produzidos vestígios de disparo, os quais são expelidos pela expansão gasosa oriunda da combustão da carga explosiva presente nos cartuchos que compõem a munição dessas armas. Tal expansão gasosa dá-se preferencialmente através da região anterior do cano da arma, orientada para a frente; porém, uma parcela desse fluxo de massa gasosa é também expelida pela região posterior da arma, em recorrência da presença de orifícios da culatra (para revólveres) ou do extrator (no caso de pistolas), conforme visualizado na Figura. Tal fluxo gasoso carrega em sua composição os gases oriundos da combustão (CO2 e SO2), bem como uma ampla gama de compostos inorgânicos, tais como nitrito, nitrato, cátions de metais como chumbo e antimônio e particulados metálicos oriundos do atrito e da subseqüente fragmentação dos projéteis metálicos disparados. Quando o fluxo gasoso emitido pela região traseira da arma atinge a superfície da mão do atirador, tais partículas sólidas aderem à superfície da pele. Um teste comumente utilizado para a detecção de vestígios de disparo de arma de fogo nas mãos de um possível suspeito consiste na pesquisa de íons ou fragmentos metálicos de chumbo, em decorrência da maior quantidade desta espécie metálica em relação a outras. O chumbo presente nos vestígios de disparo pode ser proveniente do agente detonador da espoleta, na qual encontra-se presente na forma de trinitroresorcinato de chumbo; da carga de espoleteamento, na forma de estifinato de chumbo; bem como pode ser gerado pelo atritamento do corpo dos projéteis de chumbo com as paredes internas do cano da arma. A análise química de chumbo consiste na coleta prévia de amostra das mãos do suspeito, mediante aplicação de tiras de fita adesiva do tipo esparadrapo nas mesmas e subseqüente imobilização dessas tiras em superfície de papel de filtro. As referidas tiras, ao serem borrifadas com solução acidificada de rodizonato de sódio, se apresentarem um espalhamento de pontos de coloração avermelhada, indicam resultado positivo para o disparo. Tal exame é conhecido como residuográfico. A reação química envolvida no processo consiste na complexação de íons chumbo pelos íons rodizonato:O complexo resultante apresenta coloração avermelhada intensa, diferentemente da solução inicial de rodizonato de sódio, a qual apresenta- se amarelada, nas concentrações utilizadas pelos laboratórios de Química Forense.
Conforme o presente texto conclui-se que as reações químicas e as técnicas espectroscópicas constituem importantes ferramentas utilizadas no campo das ciências forenses, na elucidação de crimes.

Referências:

1. Revista Química nova na Escola - "Química Forense: A Utilização da Química na pesquisa de Vestígios de Crimes" - 2006. n.24